Clarice era uma jovem garota sonhadora que vivia com sua família em uma cidade no interior de Minas Gerais. Feliz, vivia uma vida boa na fazenda aonde seus pais eram empregados. Seus pais trabalham para um casal muito bem sucedido da região, Cecil e Bernard, dois franceses que ainda muito jovens decidiram ganhar a vida no Brasil cuidando de terras, gado e pés da café.
O pai de Clarice, Jonas começou a trabalhar na fazenda ainda muito novo e lá, aprendera de tudo, desde ordenhar uma vaca até mesmo cortar capim. Quando se casou com Lilian, foi promovido a capataz da fazenda e exercia seu cargo muito bem. Para ajudar na fazenda, foi necessário que ele aprendesse a pilotar aviões de pequeno porte para a irrigação. Se tornara um bom piloto. Aliás, Jonas era muito bom em tudo o que fazia. Não deixava nada a desejar. Esforçado e dedicado, era um bom marido, pai e empregado. Lilian também se esforçava no que fazia. Ficava em casa cuidando das meninas, Clarice e Sílvia, suas únicas filhas e ajudava na cozinha de Cecil quando havia festas na fazenda.
A família era pobre mas nunca havia faltado nada em sua mesa, sempre havia comida, roupa e cama para todos e isso era o mais importante. Até que um dia um terrível acidente com o avião de Bernard levou pai e mãe de Clarice, deixando-a órfã juntamente com sua irmã. As duas meninas estavam agora desamparadas, desesperadas, sem saber o que fazer ou como fazer.
Cecil muito se comoveu com a situação das meninas e por não ter tido filhas, decidiu que iria cuidar das duas meninas. Para Sílvia, tudo era festa, aos doze anos só queria saber de desfrutar da boa vida dada pelo casal francês, mas para Clarice, uma moça de dezessete, aquilo era apenas uma ajuda temporária, na qual ela sabia que devia pagar de alguma forma:
- Clarice, isso é um absurdo - Dizia Cecil. - Já falei que você e sua irmãs não são apenas convidadas, são parte de nossa família.
- Mas senhora, não posso admitir viver dessa forma. Pelo menos me deixe ajudar na cozinha, como minha mãe fazia. - Pedia Clarice.
Para Cecil aquilo era um absurdo, mas por compaixão, deixou que Clarice ajudasse na cozinha quando fosse necessário.
- Pois fique sabendo que eu não vou ajudar em nada! - Afirmava Sílvia. - Quem quer dar uma de boba aqui é você, não me envolva.
- Pois fique sabendo a senhorita que vai ajudar sim senhora! - Debatia Clarice. - Sempre que for necessário, nós duas, NÓS, vamos ajudar na cozinha e aonde mais for necessário.
E dessa maneira, as duas meninas foram criadas na fazenda com amor, compaixão e muito carinho. Mas ambas sabiam que por mais que Cecil e Bernard as tratassem como filhas, na verdade elas ainda eram e sempre seriam "as filhas do capataz".
(FINAL DA 1ª PARTE)